Ontem perguntei ao meu marido como
havia sido o seu dia de trabalho e ele disse algo que me arrancou uma sonora
gargalhada: “Meu dia foi normal. Sabe como é, sempre jogando Tetris.”
Quem conhece o jogo, pode
compreender com facilidade o que ele quis dizer.
A vida está constantemente nos
enviando pecinhas, e cabe a nós tentarmos encaixá-las da maneira mais
harmoniosa possível.
Às vezes, o jogo é favorável, encaminhando
formatos de fácil junção, como aqueles momentos prazerosos que a gente acolhe
de braços abertos e sorriso no rosto: as férias de julho, o acordar preguiçoso
de um domingo, a cerveja no bar com os amigos, a festa de fim de ano,
casamentos, nascimentos, aumento de salário.
Só que o jogo tem muitos outros
elementos além dos simples cubos e barras. São os X, W e Z do Tetris que
realmente dificultam nossa vida. E daí, dá-lhe samba do crioulo doido para
encaixar aquela droga de batida no carro, as cobranças do chefe, os gritos
estridentes dos filhos clamando por atenção, quando o que nós mais queremos é
nos jogarmos no sofá e assistirmos TV em paz, os desentendimentos com nossos
pais/ cônjuge/ amigos/ vizinhos/ políticos/ aquela pessoa desrespeitando o
assento preferencial no busão/ Deus/ adicione aqui outra pessoa, ser ou coisa
que nos atormenta.
Pois é, meu amigo, tem peça que é
difícil de juntar na construção da nossa base. Mas elas vêm mesmo assim e não
há nada que nos reste fazer, a não ser olhar para o que temos, olhar para o que
nos é oferecido e resolver o desafio da maneira que dá.
Pode não ficar perfeito, mas a evolução
não irá parar por isso.
Buracos vão surgir entre as
emendas, impossíveis de serem preenchidos. Mas tudo bem, faz parte do jogo.
Nem sempre temos o espaço para
receber, naquele momento, o que vem a nós. E se isso cria uma fenda, deixemos-nas
lá, sem a cobrança de ser outra coisa. Ela faz parte dessa fase. Na próxima, quem
sabe seja possível tentarmos uma jogada diferente.
O importante é manter a calma e o
foco quando um bloco difícil descer pela tela. Ele pode até não ser o que nós
queríamos, mas ele irá, invariavelmente, se ajustar do modo que nós o
direcionarmos.
Essa é uma condição irrevogável e ainda
bem! Pois aí está o verdadeiro poder do jogador: escolher o como.
Como
resolver satisfatoriamente um conflito, como
agir perante os inevitáveis problemas, como
transformar um sofrimento improdutivo em um aprendizado construtivo. Enfim, como será nossa atitude.
Porque mais do que apenas
sobreviver à aflição dos irregulares pedaços do Tetris da vida, o que vale é como vamos utilizar aquele tempo que nos
é dado, e a escolha na composição do nosso desenho, fase após fase, até a hora
do game over.
Um beijo no coração,
